terça-feira, 15 de outubro de 2013

O espírito do Natal.

Parafraseando Nelson Rodrigues que disse que “o mineiro só é solidário no câncer”, eu diria que nós, de modo geral, só somos “solidários” no natal.

Durante o resto do ano o que vemos é a intolerância, a inveja, a arrogância e até mesmo o desprezo com o próximo.

Durante todo o ano é um verdadeiro pega-prá-capar.

Quando chega o natal, parece que sendo solidário e desejando ao outro um simples “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”, pensando cinco minutos na humanidade, na paz do planeta, ou dando uma lata de leite na esquina, a um pobre diabo que passa fome, a pessoa estaria compensando todo um comportamento individualista e egoísta que sustentou durante todo ano.

Os votos natalinos, de alguns, me soa como uma tentativa da aplicação do ensinamento cristão, onde se pode fazer o mal por toda uma vida, mas se houver o arrependimento na hora da morte, automaticamente estará salvo. No caso, sendo solidário ou fazendo um bem no natal, eu garanto uma consciência tranqüila pelos próximos doze meses.

Nesta época é comum você receber visitas, ou ser cumprimentado por pessoas que durante todo o ano nem ao menos lhe olha na cara, ou pior, por pessoas que você sabe que passam todo o tempo falando mal de você e lhe criando situações indesejáveis.

Tivemos um colega de trabalho, que Deus o tenha, que durante todo o ano nunca lhe dirigia a palavra. Com seu nariz empinado passava sem ao menos lhe enxergar.

Na véspera do natal era certo. Lá estava ele, entrava na sua sala com toda humildade do mundo, lhe desejando um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, para você e paaaara toooda a sua família. Era uma emoção só! Era de correr lágrimas. Naquele momento glorioso ele externava toda a sua humildade e expunha, desnudadamente, a sua faceta humana.

Fazia questão de lhe dar um abraço, e daqueles bem apertado.

Incomodado com aquela situação que se repetia anualmente, certa vez quando ele entrou na minha sala, eu pulei da cadeira e gritei: - Esse ano não! Qual é a sua cara? Você passa por mim todo ano e nem me olha na cara. Agora como é natal vem me trazer seus votos natalinos e me dar um abraço.

-Cara, qual é a sua?

Ele, meio atordoado com a minha reação inesperada, e ainda meio atônito, deu meia-volta e voltou para a sua sala.

É claro que a partir daquela data não recebi mais a sua visita anual. Alguns dizem que ele após este caso parou com aquele seu habito natalino. Agora pergunto à vocês: - Será que ele caiu na real? Será que fui duro com ele? Em minha opinião, acho que não!

O que devemos entender é que não somos latrinas de consciências pesadas para recebermos as descargas negativas dos arrependimentos alheios em busca de salvação.

Quando desejamos um Feliz Natal, realmente devemos fazê-lo com todo o coração, desejando profundamente o melhor para aquela pessoa, porque senão ela certamente ela irá perceber a nossa hipocrisia.

Para você que está recebendo esta crônica, eu realmente lhe desejo muitas felicidades neste fim de ano e nos outros anos que estão por vir. Tenha certeza que é realmente de coração. Se assim não o fosse, você não estaria na minha lista de amigos.

* Nelson Rodrigues atribuía a frase “O mineiro só é solidário no câncer” á Otto Lara Rezende.

Um comentário:

  1. Casualmente me deparei com esse blog , que não sei como veio aparecer na minha telinha , li e gostei do texto . Essas coisas são verdadeiras . Acontecem , e eu acho que não podem ser julgadas . São uma questão de ponto de vista . De como cada qual interpreta as reações. Elas são individuais e obedecem a certos critérios. Aqui para nós, não há nada pior do que um companheiro chato que só lhe enxerga uma vez por ano...!

    ResponderExcluir

Faça o seu comentário sobre o texto.