segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O Papa é pop.

Talvez o Papa Bento XVI com sua renuncia, tenha deixado para seus fiéis e para o mundo corporativo, o maior legado e ensinamento que um papa até hoje tenha preconizado.

Mesmo com toda autoridade que lhe foi conferida, ``representante de Deus na terra``, quem sabe, tenha percebido, que mesmo ele, teria atingido o seu limite de competência em conduzir e gerir sua instituição da melhor forma possível. Por isso pediu a sua mitra e vai sair agora no próximo dia 28.

Atualmente como as informações são abundantes, e as noticias rápidas e superficiais, propiciou a criação e disseminação da figuras dos `` especialistas superficiais``. ”Especialistas superficiais” são pessoas com pouco conhecimento e que se julgam especialistas em tudo, desconsiderando totalmente a existência do chamado “limite de competência”.

No mundo corporativo, estas pessoas são um verdadeiro perigo, um verdadeiro desastre. Neste ambiente não basta o querer. É fundamental ter o conhecimento e a experiência para realizar aquilo a que se propõe. Tem que ser verdadeiramente competente naquilo que se faz.

Atualmente, a contratação de um executivo por uma empresa privada, após os primeiros contatos, pode durar meses. Durante este tempo, não só o seu “curriculum” é analisado, mas o seu comportamento pretérito, a relação com a sua família, o que ele anda lendo, suas manias, etc. Tudo isso passou a ter uma importância capital na contratação destes profissionais.

Isto faz sentido e se torna necessário, porque hoje as corporações modernas, são vistas pelos especialistas como um organismo vivo, onde cada pessoa desta instituição atua como um pequeno órgão de um sistema maior. O gestor precisa ter uma visão sistêmica percebendo o macro e o micro com a mesma intensidade. Ele precisa atuar de forma a antever, identificar os problemas e criar as condições para que eles sejam resolvidos. Para isso é necessário conhecimento e experiência. Não se admite nas corporações modernas a figura dos “especialistas superficiais”.

A formação de novos gerentes nestes ambientes é feita com muito cuidado. Os mais velhos só ascendem se forem preparados e se prepararem os seus substitutos. A manutenção de sua ascensão depende diretamente de uma resposta eficiente do seu substituto. Assim é o mundo corporativo moderno.

Mas em muitas empresas as coisas não funcionam assim. Por exemplo, temos as empresas familiares. As estatísticas mostram que atualmente no mundo, de 10 destas empresas abertas, apenas 3 sobrevivem. Ou seja; não basta ser pai, irmão, primo, amigo, amigo do amigo e compadre. Não basta apenas ter um laço afetivo forte para vencer.

O mercado é exigente e cruel.

Para ele, só a competência salva!

“O pop não poupa ninguém.”

“O Papa é pop.

O pop não poupa ninguém”

Engenheiros do hawaii

Claudio Sarnelli

17/02/2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Histórias.

Hoje li no jornal que a marca Varig irá sumir até abril de 2014. A Gol, atual dona da companhia, entende que os passageiros associam a marca Varig a aviões velhos e ultrapassados, mesmo sendo a frota composta por aeronaves novas e modernas.

Lendo isso, imediatamente comecei a viajar no tempo e a lembrar da antiga Varig. Ela, como a Petrobras ainda é, era um verdadeiro símbolo nacional. Como dizia a propaganda, era "uma estrela brasileira viajando pelos céus azuis do mundo", anunciando à todos, que nós brasileiros éramos também capazes. Em uma época em que o Brasil era apenas futebol, carnaval e café, a Varig viria a se tornar um verdadeiro orgulho para o Brasil.

Lembrei-me também do glamour que era viajar por esta companhia aérea e em seguida me veio a triste lembrança da sua falência. Isto me fez pensar como tudo na vida parece ser realmente instável, mutável e impermanente.

A Varig, durante a sua existência, chegou a se tornar uma das maiores e mais conhecidas companhias aéreas privadas do mundo, concorria até mesmo com a grande PanAm dos americanos.

Era famosa pelos seus serviços de bordo e sempre primou pelo requinte. Na sua Primeira Classe servia-se até caviar. Mas a Varig não era só isso, não era só caviar e champanhe. A Varig era competência.

O treinamento de seu pessoal sempre foi uma meta permanente da empresa. Ela não se preocupava só com os seus pilotos e comandantes. Para isso, implantou um Centro de Treinamento Operacional, conhecido internacionalmente como "Varig Flight Training Center", que era um centro integrado para treinamento das principais áreas operacionais da companhia, onde eram oferecidos mais de 60 cursos diferentes.

Seu setor de Engenharia e Manutenção era reconhecido pelo seu alto padrão técnico. Prestava serviços também para diversas outras empresas nacionais e internacionais.

Durante os anos áureos, seus escritórios de atendimento no exterior eram considerados verdadeiros consulados extras-oficiais do país, pois prestavam os mais variados serviços de apoio ao público brasileiro em viagem.

Apesar de toda a expansão da empresa, incorporação de inovações tecnológicas, compra de aviões cada vez mais novos e serviços sofisticados a Varig começou a apresentar balanços negativos. Os atentados de 11de setembro que abalaram, de forma geral, toda a aviação comercial do mundo, não pouparam a Varig.

Em uma tentativa de recuperação, chegou-se até a mudar a sua identidade visual, adotando a famosa "estrela dourada".

Com o aprofundamento da crise, supostamente devido ao reflexo do congelamento das tarifas aéreas pelo governo, nas décadas de 1980 e 1990, completadas por uma administração ineficiente que não tomava qualquer atitude para evitar o crescimento da crise e reduzir as dívidas da empresa, a Varig "voava" cada vez mais rápido para a falência.

Nesta época, só o governo federal devia mais de 4 bilhões de reais ao grupo. Além disso, a Varig começou a perder espaço para outra empresas que adotaram o modelo Low Cost que conquistou definitivamente o público brasileiro.

Após sobreviver por 79 anos, em 2006 começaram as demissões, totalizando somente em um, dia mais de 5000 cortes de postos de trabalho.

A Fundação Ruben Berta, inicialmente chamada de Fundação dos Funcionários da Varig detinha o controle acionário da companhia. O seu objetivo principal era atuar como um fundo de previdência, prover benefícios médicos e assistenciais aos seus funcionários. A fundação também tinha um caráter filantrópico possibilitando ao cidadão comum, o acesso a medicamentos de necessidade vital sem similar no Brasil, oriundos dos Estados Unidos e Europa. Ela assumia a intermediação entre pacientes e distribuidores.

Outro caso emblemático da aviação brasileira foi o da Panair do Brasil, que após 35 anos de existência da noite para o dia teve o seu fim decretado pelo governo.

A destruição desta companhia teve a influência direta da política da época. Existia uma perseguição do regime militar contra seus proprietários, estes também, donos da TV Excelsior, que foi igualmente fechada por ordem da ditadura militar brasileira.

Ao contrário da Varig, a Panair do Brasil tinha um acervo gigantesco que superava em muito o seu passivo. Ela era dona da Celma, uma avançada oficina de retificação de motores que é até hoje é a maior da América Latina, e que atendia não apenas a Panair, mas também outras empresas e a própria Força Aérea Brasileira.

A Panair do Brasil tinha hangares equipados com tecnologia de ponta, de nível comparável a países de 1º mundo, e uma rede de agências consulares instaladas nas mais importantes capitais européias. Também era responsável por toda a infra-estrutura de telecomunicações aeronáuticas do país e por boa parte dos aeroportos do Norte/Nordeste, foram construídos com recursos próprios.

Os ex-funcionários da Panair do Brasil tinham orgulho de trabalhar para aquela companhia e com o seu fechamento, desde 1966, cerca de 400 pessoas passaram a se reunir anualmente, para lembrar os velhos tempos, celebrar e rememorar as agruras e as glórias da aeronáutica brasileira. Porém tudo isso virou passado, tudo virou pó, já não existe mais.

A impermanência das coisas é um fator natural da vida. Porém quando adicionamos a ela a política e grandes doses de incompetência, geramos uma mistura que passa a ser um catalisador da própria impermanência.

Isto foi o que aconteceu com estas duas grandes companhias aéreas brasileiras. A partir destas ocorrências a aviação comercial brasileira nunca mais foi a mesma.

Claudio Sarnelli

25/10/2013

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O espírito do Natal.

Parafraseando Nelson Rodrigues que disse que “o mineiro só é solidário no câncer”, eu diria que nós, de modo geral, só somos “solidários” no natal.

Durante o resto do ano o que vemos é a intolerância, a inveja, a arrogância e até mesmo o desprezo com o próximo.

Durante todo o ano é um verdadeiro pega-prá-capar.

Quando chega o natal, parece que sendo solidário e desejando ao outro um simples “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”, pensando cinco minutos na humanidade, na paz do planeta, ou dando uma lata de leite na esquina, a um pobre diabo que passa fome, a pessoa estaria compensando todo um comportamento individualista e egoísta que sustentou durante todo ano.

Os votos natalinos, de alguns, me soa como uma tentativa da aplicação do ensinamento cristão, onde se pode fazer o mal por toda uma vida, mas se houver o arrependimento na hora da morte, automaticamente estará salvo. No caso, sendo solidário ou fazendo um bem no natal, eu garanto uma consciência tranqüila pelos próximos doze meses.

Nesta época é comum você receber visitas, ou ser cumprimentado por pessoas que durante todo o ano nem ao menos lhe olha na cara, ou pior, por pessoas que você sabe que passam todo o tempo falando mal de você e lhe criando situações indesejáveis.

Tivemos um colega de trabalho, que Deus o tenha, que durante todo o ano nunca lhe dirigia a palavra. Com seu nariz empinado passava sem ao menos lhe enxergar.

Na véspera do natal era certo. Lá estava ele, entrava na sua sala com toda humildade do mundo, lhe desejando um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, para você e paaaara toooda a sua família. Era uma emoção só! Era de correr lágrimas. Naquele momento glorioso ele externava toda a sua humildade e expunha, desnudadamente, a sua faceta humana.

Fazia questão de lhe dar um abraço, e daqueles bem apertado.

Incomodado com aquela situação que se repetia anualmente, certa vez quando ele entrou na minha sala, eu pulei da cadeira e gritei: - Esse ano não! Qual é a sua cara? Você passa por mim todo ano e nem me olha na cara. Agora como é natal vem me trazer seus votos natalinos e me dar um abraço.

-Cara, qual é a sua?

Ele, meio atordoado com a minha reação inesperada, e ainda meio atônito, deu meia-volta e voltou para a sua sala.

É claro que a partir daquela data não recebi mais a sua visita anual. Alguns dizem que ele após este caso parou com aquele seu habito natalino. Agora pergunto à vocês: - Será que ele caiu na real? Será que fui duro com ele? Em minha opinião, acho que não!

O que devemos entender é que não somos latrinas de consciências pesadas para recebermos as descargas negativas dos arrependimentos alheios em busca de salvação.

Quando desejamos um Feliz Natal, realmente devemos fazê-lo com todo o coração, desejando profundamente o melhor para aquela pessoa, porque senão ela certamente ela irá perceber a nossa hipocrisia.

Para você que está recebendo esta crônica, eu realmente lhe desejo muitas felicidades neste fim de ano e nos outros anos que estão por vir. Tenha certeza que é realmente de coração. Se assim não o fosse, você não estaria na minha lista de amigos.

* Nelson Rodrigues atribuía a frase “O mineiro só é solidário no câncer” á Otto Lara Rezende.

Careca por um tempo.

Como a maioria já sabe, carequei geral.

Outro dia passando em frente a uma barbeira, parei, olhei, pensei e decidi entrar.

Sentei na cadeira e falei para o barbeiro:

- Passa a máquina zero!

Ele, com toda a calma olhou para mim, se curvou um pouco e perguntou num tom de muito respeito:

- O senhor tem certeza?

Eu sem pestanejar, pois era uma coisa que já de muito tempo queria fazer, respondi:

- Tenho sim! Manda brasa!

O resultado desse ato quase insano é uma experiência que vale a pena ser contada.

A primeira coisa que acontece quando você faz uma coisa assim, e vê cair o último fio de cabelo, é você sentir um verdadeiro vazio existencial. Definitivamente, aquele cara que estava sendo refletido no espelho não era mais você. Lá estava um desconhecido. Um estranho, um estrangeiro, um alienígena.

E agora? O que fazer?

Você sai da barbearia um pouco atordoado e fica por algum tempo repetindo para você mesmo: O que fazer agora? E agora o que fazer? Depois de muito pensar, veio a inspiração: O Google, o Google! Talvez o ele tenha a resposta! Ele tem resposta para tudo.

Por que não teria para um recém careca desesperado?

Depois de procurar um pouco, achei em um link com o resultado de uma pesquisa feita pela Universidade da Pensilvânia, que ao meu ver deve ter sido feita por cientistas carecas, explico mais adiante. A tal pesquisa sugere que homens que resolvem ficar carecas raspando a cabeça, parecem mais viris, poderosos e fisicamente mais fortes.

Isto era um bom alento, mas definitivamente não era assim que eu me sentia naquele momento.

Depois de alguns acontecimentos tive a certeza de que a pesquisa foi mesmo feita por cientistas carecas querendo valorizar a sua mercadoria, ou digamos, a sua falta de mercadoria.

A primeira coisa que aconteceu comigo foi quando cheguei em casa e escutei da minha mulher que me olhava de forma indignada:

- O que foi que você fez? Deste jeito não saio mais com você.

Aí eu pensei:

- É já vi que hoje não rolar nada. Não adianta nem tentar.

Ela estava certa. Imagine só, se você mesmo não se reconhece mais, imagine sua esposa. O cara que acaba de entra na casa é também um total desconhecido para ela.

Lá se foi o primeiro ponto positivo da gloriosa pesquisa Pensilvaniana.

Quando encontrei a minha filha menor de quatro anos, ela ficou olhando para mim de um modo estranho. Olhou, olhou, mas no final gritou: -É meu pai! É meu pai!. Bom, demorou mas pelo menos ela me reconheceu.

O problema apareceu quando pedi para ela entrar e ela me respondeu:

- Não vou entrar porque você está careca!

Neste momento me senti um leão sem juba. Dá para imaginar um leão sem juba? Se você olhar bem um leão, parece que toda a sua majestade repousa exclusivamente na juba. Tirando a juba parece que não sobra muita coisa.

Instantaneamente parecia que eu tinha perdido todo o meu poder sobre a minha alcatéia. Deste ponto de vista ela estava certa, quem levaria a sério um leão sem juba?

Mais uma vez, a nobre pesquisa errava.

No meu surto “privo de capelli” momentâneo, passei aquela primeira noite toda “inclaro”. Me olhava no espelho á todo instante tentando ver se o cabelo já tinha crescido um pouquinho e tentando calcular em quanto tempo ele voltaria ao normal. No outro dia, eu estava todo quebrado pela noite perdida. Fisicamente eu estava acabado. Tive que Passar três dias para me recuperar do ocorrido. O terceiro postulado da pesquisa capilar tinha também caído por terra.

Lá se foram as minhas três e únicas esperanças. No meio daquele desespero total me veio uma luz. Lembrei-me do “tempo”. Sim, ele, o tempo, só ele iria dar jeito nesta situação.

Era tudo muito simples. O negócio era ter calma. E como deveria mesmo aguardar e esperar, terminei ficando tranqüilo e saindo do meu surto capilar.

Agora que já me acostumei com a minha nova aparência, fico curtindo o crescimento da minha nova “cabeleira”. E olhando bem, até que não fiquei tão mal assim!

Mas o certo é que:

Raspar, nunca mais!

06/12/2012

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Deu no jornal!

O Globo publicou na semana passada uma reportagem em que dizia que uma empresa holandesa, a Mars One, pretende até 2023 instalar em Marte uma colônia humana. O principal detalhe deste projeto, e que chama muita atenção, por um “probleminha” de custos, é que a passagem dos astronautas será apenas de ida.

Tá pensando que é brincadeira? Não é não! É isso mesmo. Passagem só de ida.

Mesmo assim, já tem mais de 100 mil inscrições de voluntários querendo se mudar para o planeta vermelho para morar em pequenas cápsulas, provavelmente cedidas pelo BNH.

A idéia de mandar gente para Marte com passagem só de ida é me parece assustador. Mas os autores do projeto afirmam que isso não é nada de mais. Dizem que isto não seria mais estranho que uma passagem só de ida para os Estados Unidos em 1620, na época da colonização americana, e que a exploração, as descobertas e as viagens para o desconhecido fazem parte do próprio espírito humano.

Convenhamos, existe uma grande diferença entre os dois casos. Aposto, sem chances de errar, que nenhum dos donos da Mars One embarcaria em um vôo “one way” para Marte.

A proposta seria mandar inicialmente quatro pessoas “equipadas” com um pequeno reator nuclear debaixo do braço e um par de veículos. Presumo que pás e picaretas e band-aids devem fazer parte do kit básico de sobrevivência. Lá os “news marcianos” teriam que fabricar seu próprio oxigênio, cultivar alimentos, e até mesmo iniciar projetos de construção utilizando-se de matérias primas local, com o objetivo de acolher os futuros humanos que seriam enviados. Coisa leve, fácil de fazer, sem problema algum.

Periodicamente (até faltar grana) remessas de alimentos e suprimentos médicos seriam enviadas da terra aos nossos expedicionários.

No meio de todos os voluntários inscritos logicamente existem brasileiros. E como dito na reportagem por uma compatriota, ela “quer ter a oportunidade de experimentar uma nova forma de viver em uma “nova sociedade.

Tudo bem! Eu até posso entender estas questões filosóficas da natureza humana sobre a curiosidade pelo desconhecido, mas gostaria de fazer algumas perguntas:

O que há de errado com a velha Terra? Tá faltando espaço? Estão faltando alimentos? Está faltando privacidade?

Se o problema é a falta de privacidade, existem locais na Terra totalmente isolados, totalmente ermos, ótimos para se iniciar uma nova sociedade. Garanto que todos muito mais aprazíveis que qualquer lugar de Marte.

Por que ir morar lá?

Talvez o problema dos nossos aspirantes á marcianos, não seja propriamente a velha Terra, e sim a complicada natureza do ser humano que nela habita Conhecendo esta natureza, fica fácil de fazer algumas previsões.

Certamente se enviarmos inicialmente para Marte estas quatro pessoas, mesmo antes de chegar lá, uma delas vai querer ser o chefe, a outra para tirar proveito da situação vai se colocar na posição de “amigo do chefe” e a terceira, para não perder espaço, vai logo se candidatar a consultor marciano para assuntos outros. O que vacilar vai terminar fazendo todo o trabalho pesado. Lembram das pás e picaretas e dos bad-aids? Continuando.....: Se por um acaso faltar vaga na cápsula e só couberem três camas, as vagas certamente ficarão distribuídas da seguinte forma: uma para o chefe, uma para o "amigo do chefe” e a outra para o consultor.

Sem direito a sua vaga, o nosso quarto viajante, vai mesmo ter que dormir ao relento sem ao menos ter direito a um rodízio de “cama quente”.

Esta é a grande verdade sobre a natureza humana, “farinha pouca o meu pirão primeiro”. Ela é valida tanto aqui na terra, como em Marte ou em qualquer lugar do universo.

Basta apenas juntarmos dois seres humanos.



18/08/2013

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Barbosinha vai a New York.

Barbosinha é um amigo de longas datas, figura calma, baixinho e franzino, sujeito muito valente, destemido e principalmente orgulhoso das suas origens.

Filho de Cabrobo, cidade que fica lá no oeste do estado de Pernambuco, e como ele mesmo diz, sempre foi um homem do semi-árido, um homem do sertão. E isto podia ser notado pela sua forma de ser, e pelos seus costumes tradicionais.

De inteligência privilegiada, foi alfabetizado por dona Justina, professora das antigas, que se orgulhava deste seu aluno, que com apenas doze anos de idade já lia Camões, e era versado em vários outros escritores portugueses.

Aos 17 anos, Barbosinha partiu para o Recife para cursar a universidade, tornando-se o melhor aluno de todos os tempos daquela instituição. Aos 23, já era professor emérito de português, da escola de letras da universidade do Recife.

Afonso Barbosa Castanho De Almeida, mas para os amigos simplesmente Barbosinha. Sujeito culto, orgulhoso do seu conhecimento da língua portuguesa e extremamente polido ao falar. Não admitia, em hipótese alguma, o uso de gírias pelos seus alunos ou por quem quer que fosse.

Mesmo sendo um “homem do agreste” vestia-se sempre com excessivo apuro e formalidade. Seu costume é de, até hoje, usar camisa social fechada até o ultimo botão, Jamais foi visto com o peito desnudo por qualquer um dos seus amigos. Com a barba sempre bem feita e seu cabelo impecavelmente cortado e bem penteado, e usando sempre um leve gumex, que ninguém sabia onde ele conseguia, Barbosinha é realmente um tipo peculiar.

Dentre suas muitas manias, uma ficava evidente. Há muitos anos que Barbosinha vinha nos falando enfaticamente e sistematicamente, apesar de nunca ter ido aos Estados Unidos, sobre a beleza que é a árvore de natal do Rockefeller Center em New York.

Ele conhece toda a história desta árvore, desde a sua primeira exposição em 1931; e todo ano é a mesma coisa, vai chegando o natal e ele começa com a mesma história, a tal da beleza da árvore do Rockefeller Center.

Essa história já tinha virado piada entre os amigos.Quando alguém queria brincar com ele, e adjetivar alguma coisa de bela, era só dizer: - Êta, isso é mais bonito que a árvore do Rockefeller Center. Barbosinha não gostava muito, mas levava numa boa.

No ano passado ele se encheu de coragem e tomou uma decisão, a qual nos Informou quase que de forma solene: - Caros amigos, gostaria de “cientificar” a todos, que comprei passagem para New York e desta vez vou ver pessoalmente a beleza da árvore de natal do Rockefeller Center, ao vivo e á cores. Partirei em breve! Bradou ele.

Era uma grande notícia. Era, com certeza, a notícia do ano! Barbosinha finalmente iria conhecer a tal da árvore. Mas, no meio da conversa me ocorreu de perguntar:

- E o frio Barbosinha? Exclamei.

Confiante nos seus conhecimentos e na sua organização, ele me respondeu sorrindo:

- Não se preocupe meu amigo, que esta tudo absolutamente sob controle. Você já viu um pernambucano com frio!

E assim, Barbosinha partiu para a terra do Tio Sam, juntamente com Dna Mariá e sua filha Paloma, em busca da realização do seu sonho.

Depois de alguns dias, após a viagem do nosso amigo, interei-me do frio que estava fazendo em New YorK. Os termômetros estavam marcando quase 6 graus negativos. Entre preocupado e curioso, não me contive e liguei para Barbosinha.

Do outro lado da linha, uma voz macabra a tende ao telefone: -Alôôôôô......... A princípio não reconheci aquela voz. Alguns segundos depois disse:

-Eu queria falar com Barbosinha.

Então a voz catacumbica responde: - Ééééé ele quem faalaaaa! Queeeem tá falaaaando?

Por alguns instantes fiquei mudo por ouvir aquelas palavras arrastadas e fiquei imaginando o que estaria acontecendo com o velho Barbosa. Ele estaria doente?

Finalmente respondi: - Sou eu Barbosinha, o seu amigo baiano! Eu só estou ligando para saber como você está passando com todo este frio, que está fazendo aí em New York.

Neste momento o telefone emudeceu totalmente.

Um tempo depois, em meio a uma profusão de palavras inicialmente desconexas, pude entender finalmente o que Barbosinha queria dizer: -Traduzindo - Estou aqui no quarto do hotel debaixo de toneladas de cobertas, está fazendo um frio bárbaro.

Aí caí na bobagem de perguntar:

- Mas, pelo menos você já chegou a ver a tal da árvore?

Parece que neste momento a minha indagação ativou algo profundo no seu inconsciente. Aí o meu amigo não si conteve mais, e se transformando totalmente, como um menino aperreado disparou solenemente: - Seu filho do cabrunco, você tá me gozando é? Com esse frio fudido que esta fazendo quem é que quer ver a merda, a porra daquela árvore! Parece que é abestado! Você está de gozação comigo é? É? Seu borrego gaiato! Quando eu chegar aí você vai ver o que é bom prá tosse, seu filho do cabrunco.

Sem saber o que dizer, e me sentindo meio atabalhoado, pois nunca tinha ouvido Barbosinha falar daquele jeito e na tentativa de desviar um pouco o assunto, perguntei já meio sem graça:

-E Mariá e Paloma, como estão passando? Elas também estão com problema com o frio?

- Frio porra nenhuma! Elas foram passear e ver a merda daquela árvore. Já é a terceira vez que elas fazem isso.

Muito sem jeito, encerrei a conversa, o mais rápido possível, e desliguei.

Mas o fato é; quando Barbosinha voltou ao Brasil já não era mais o mesmo. Esta viagem o tinha mudado profundamente. De uma pessoa altiva, ele passou a ter um comportamento estranho meio depressivo, meio agressivo. Palavras chulas brotavam com facilidade de sua boca, principalmente quando se aborrecia. A sua fama de homem sério, cordato e polido já não lhe cabia mais.

Mas o que ele não agüentava mesmo, e aí ele virava uma fera totalmente sem controle, era ouvir DNA. Maria e Paloma falarem, ainda admiradas, para os amigos sobre a beleza que era a árvore de natal do Rockfeller Center.

Claudio Sarnelli

24/02/2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A fenda.

Egberto acordou sobressaltado com o choro de sua filha. Levantou-se rapidamente e tratou de atendê-la. Logo que a pequena se acalmou e dormiu, retornou para a sua cama.

Mas algo o impedia de dormir imediatamente. Por algum tempo ficou rolando, sem conseguir reconciliar o sono. Enquanto se movia “de lá para cá”, observou que o relógio, que se encontrava ao seu lado, sobre o criado-mudo, marcava exatamente 00h00min. Admirado concluiu: Que coincidência!

Curioso, passou a examinar o relógio, que estranhamente não avançava.

Isso começou a intrigá-lo. Estaria quebrado? Pensou.

Passou mais algum tempo e enigmaticamente o relógio não se movia.

De repente, tudo que estava no quarto começou lentamente, a emanar uma suave luz azul brilhante. A cada instante, se tornava mais forte, até o ponto que já não era mais possível ver os objetos do próprio quarto. Profundamente assustado, descobriu que Marise, sua mulher, já não se encontrava mais ao seu lado.

Após alguns instantes, a luz se tornou tão intensa, que ele já não podia mais manter os olhos abertos. Curiosamente, mesmo com eles fechados, podia perceber todas as nuances daquela luz. Gradativamente, ela foi se transformando em uma vibração, que de intensa foi se tornando cada vez mais suave e harmônica.

Egberto, mais uma vez se assustou, e quase entrou em pânico quando percebeu que seu corpo também já não mais existia. Ele e aquela vibração haviam se fundido em uma só unidade. Ele pensou: - Terei morrido enquanto dormia? A morte é assim?

Mas o fato é que ele, paulatinamente, começou a se sentir dissolvido naquela onda de energia, sendo tomado por um estado de plenitude que jamais havia experimentado. Encontrava-se em um contentamento imperturbável, sentindo-se uno com o próprio universo.

Quando percebeu isso, concluiu com uma certeza absoluta: - Morri! Agora sei que morri.

Egberto ficou neste estado por horas, “curtindo” a sua morte. Finalmente ela não era uma coisa tão ruim, muito pelo contrário. Ele tinha alcançado um estado de grande felicidade, de glória, de uma bem-aventura perfeita, o que em vida seria impossível.

- É; não havia mais duvida, Egberto havia morrido enquanto dormia.

Repentinamente algo aconteceu. Ele percebeu que agora, já presente no seu corpo, viajava a uma velocidade indescritível, dando a impressão que uma seqüência de portas ia se fechando atrás dele. A cada passagem por uma delas podia ouvir um estrondo fortíssimo.

Era sua mulher que o acordara para saber como estava a menina. Ele, ainda atordoado com o acontecido, balbuciou algumas palavras sem nexo e virou para o outro lado. Neste instante percebeu claramente que o relógio que ainda marcava 00h:00 min, acabava de passar a marcar o primeiro segundo do novo dia.

Surpreso concluiu mais uma vez: - Eu não estou morto! Ainda pasmo com o que lhe havia ocorrido refletiu: Mas aquele tempo todo que passei naquele lugar foi real. Tenho certeza que foi real.

Mas todas essas perguntas iniciais não se significavam nada perante o grande sentimento de paz que aquela profunda experiência lhe tinha proporcionado.

O dia amanheceu e ele se mantinha desperto, deleitando-se com aquela felicidade sem fim. E foi assim pelo resto da manhã, tarde e noite.

Os dias foram se passando e todas as noites enquanto Egberto dormia, invariavelmente ele passava pela mesma experiência.

Nesse período, passou a falar raramente com as pessoas da casa e fechou-se.

Desfrutava no silêncio a grande benção que tinha recebido.

Curtia o dia de bem- aventurança, enquanto aguardava a noite chegar para mais um encontro, e para mais uma dose de felicidade incomensurável.

As coisas do mundo já não lhe importavam mais.

Os encontros noturnos de Egberto se repetiram sempre, da mesma forma e por exatos trinta dias.

Quando a experiência passou a não ocorrer mais, ele, aos poucos, com o decorrer dos dias, passou a se comportar de forma muito estranha e obsessiva. Só falava da luz azul e da angustia que era viver sem ela. Não conseguia conviver mais com sua antiga realidade, sem aqueles encontros.

Passou a acordar á noite, sobressaltado, sem fôlego, ofegante e murmurando repetidamente: A luz, a luz........

Os dias se passaram, mas a experiência nunca mais se repetiu.

Certo dia, Egberto já bastante depauperado, desapareceu de casa.

E por um bom tempo permaneceu sumido. A família, desesperada, por vários dias o procurou por toda a cidade.

Ela ficava se perguntando:

- Onde estará Egberto? O que ele estará fazendo?

Em uma manhã chuvosa, chegou a terrível resposta. Egberto tina sido encontrado, porém sem vida. Ele tinha pulado do viaduto mais alto da cidade.

Em sua mão foi encontrado um bilhete que dizia: Perdão Marise,

Descobri que existe uma fenda no tempo, e a luz azul está lá.

Já não consigo mais viver sem ela.

Só assim posso encontrá-la.

Com muito amor,

Egberto

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Uma festa sem igual.

O casamento transcorreu em harmonia. O local era uma capela singela do século XVI, muito agradável. A noiva chegou no horário. O padre, desta vez, fez uma preleção rápida e bastante realista para os nubentes e convidados. E assim o casamento foi se realizando, sempre embalado por um magnífico coral, que brindou a todos com uma seleção de músicas primorosas.

Ao final, soaram as trombetas e os convidados foram conduzidos ao salão de festa. O local exalava glamour. Mesas finamente decoradas, candelabros que caiam do teto e discretas luzes coloridas envolviam todo o ambiente, criando uma atmosfera toda especial e requintada.

Os convidados ao chegarem, foram recebidos com musica de Frank Sinatra e de outros cantores famosos da época. No centro do salão uma área era destinada à discoteca. Tudo muito bonito. Os anfitriões haviam criado realmente um ambiente perfeito. Um ambiente fino e de classe para os noivos festejarem as suas bodas, na companhia dos seus amigos e convidados, naquele que seria um evento memorável. Descortinava-se uma verdadeira noite de gala.

A indumentária dos convidados estava totalmente de acordo com o ambiente. Os homens elegantemente vestidos com seus paletós finos, sapatos brilhantes e cabelos impecavelmente cortados. As mulheres com seus longos vestidos, coberto de brilho, e com suas sandálias de salto, que as tornava mais altas e elegantes. Seus cabelos, irretocáveis, penteados para a ocasião, com muito esmero.

No salão observava-se um discreto balé de garçons, que com suas bandejas ao alto, repletas de finas iguarias e bebidas, iam e viam sem parar. Decididamente o clima de glamour estava no ar, e a ordem era aproveitar o ambienta que aquela festa proporcionava.

Mas á medida que os convidados iam comendo, dançando e principalmente bebendo, a animação foi crescendo de forma abrupta. A uma certa altura da festa, os primeiros sinais de fumaça do efeito alcoólico chegaram aos cérebros dos alegres dançarinos, que aproveitavam a área da discoteca. O sangue, que agora começava a ferver, passava a ser bombeado com mais intensidade, levando à todas as partes dos seus corpos certos sinais hereditários e tribais, que faziam ouvir o som dos tambores, sentir o cheiro da fumaça das fogueiras, e um certo gosto da carne crua que chegava às suas bocas, através de arrotos ancestrais.

Já com a química do corpo totalmente transfigurada, aquele som antigo e nostálgico, já não era mais digerido pela galera. Sem cerimônia, alguém vai ao DJ e fala: - Aê baêa, você não tem uma musiquinha com uma batida mais maneira?

Pronto; aquela era a senha que o DJ esperava ansiosamente. Sem pestanejar bota para tocar um daqueles funk pesado.

A essa altura, os dançarinos, quase que em transe, mergulham de corpo e alma naquele ritmo quase que tribal, enquanto os uísques e os alcoólicos iam desaparecendo quase que totalmente das bandejas dos garçons. A temperatura ia esquentando cada vez mais. Chegou o momento que os homens começaram a tirar seus paletós, desabotoar suas camisas e folgar completamente suas gravatas. Já as mulheres, tiraram as sandálias e descalças se entregaram completamente á aquele som.

A sensualidade brotava por todos os lados, tomando conta dos dançarinos. As mulheres começaram a rebolar naquele sobe e desce frenético, enquanto esfregavam seus corpos e cabelos, num frenesi constante. Os homens, excitados com os movimentos de suas parceiras, acompanhavam aquele ritmo quente como verdadeiros lobos, prontos para abater a sua presa.

A essa altura, os noivos, já totalmente desconsolados e completamente desesperados, com o que estava acontecendo com a sua festa, ouvem alguém murmurar aos seus ouvidos: - Manda recolher rápido as garrafas, antes que eles resolvam dançar ``na boquinha da garrafa``.

Já não havia mais o que fazer.

Para os nubentes a festa estava acabada.

Sem dúvida, esta foi uma festa sem igual.