segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A máquina.

E finalmente ela chegou. A impressora que todos estavam esperando acabava de chegar. Essa ansiedade toda era justificada, pois não era uma máquina qualquer, era algo realmente especial, uma daquelas “High Tech” de ultima geração, cheia de funções para todos os lados e luzes que tudo indicava. A novidade foi recebida euforicamente por todos, enquanto, em pleno corredor, a turma da informática já executava os primeiros movimentos para colocá-la em funcionamento.

Após os últimos ajustes, os responsáveis pela instalação elogiavam a qualidade excepcional daquele aparato maravilhoso e de tudo que ele podia fazer. Era muita tecnologia concentrada numa só peça. Copiava, escaniava, imprimia, enviava e-mails, e fazia muitas coisas mais. E tudo com altíssima qualidade.

- Esta máquina é tão avançada que só falta falar. Disse um deles ao terminar a instalação. E assim, ela foi deixada no corredor disponível para uso imediato.

De tão imponente que era, com suas dezenas de botões coloridos e luzes piscantes, até gerava certo receio à que ia usá-la. Rapidamente se percebeu que não seria muito fácil operar a tal máquina.

Mas como sempre, aqueles que adoram fuçar novas tecnologias partiram para o ataque. Aperta botão daqui, aperta botão dali e nada. Parecia que operá-la não era realmente uma tarefa fácil. Assim, para evitar vexames, as pessoas já estavam preferindo fazer suas tentativas com corredor vazio.

Lá pelas tantas, Aderbal parte para usá-la. Tenta, tenta e nada.

Olhando desorientado para aquela maravilha cibernética pensa consigo mesmo: - O que é que eu faço agora?

Neste instante, a máquina emite alguns sinais luminosos, faz uns barulhinhos e lança uma folha onde estava escrito:

- Aderbal, aperte o botão verde e depois dê OK.

Quando Aderbal leu o que estava escrito tomou um grande susto e logo pensou: - Isso é armação da turma! Olhou para um lado, nada, olhou para outro e nada. Não havia ninguém.

Novos sons e mais luzes piscaram e mais uma folha aparece.

Nela se lia: - Você vai ficar ai parado, ou vai fazer o que mandei? Aderbal, desconfiadíssimo, fez o que ela lhe havia indicado e em seguida, lá estava ao seu trabalho realizado.

Logo ele pensou:

- Que máquina é essa!

E mais uma folha de papel sai da impressora. Lá estava a resposta à exclamação de Aderbal.

-Eu sou uma maquina especial, posso perceber os seus pensamentos e conversar com você através das minhas folhas impressas. Quer fazer um teste? Pense em algo que eu lhe direi o que foi.

Mesmo sem querer acreditar no que estava vendo, ele pensou nos seus problemas econômicos.

Instantaneamente mais uma folha sai da maquina dizendo:

- Você pensou nos seus problemas econômicos, não foi? E lhe digo como resolvê-los. E passou a descrever a solução do problema, passo a passo. Aderbal não acreditou no que estava lendo. Além de acertar sobre o seu pensamento, lá estava a solução para os problemas que vinham lhe atormentando. A solução era perfeita.

Mais uma vez, uma nova folha é aparece:

- Aderbal, quando quiser falar comigo ou quiser algum conselho de qualquer tipo, é só vir aqui e apertar o botão azul três vezes.

E assim, Aderbal voltou para sua sala meio confuso, porém totalmente deslumbrado com aquela maravilha cibernética.

Chegando lá, ainda sob o efeito do ocorrido, contou em detalhes ao seu colega, o que lhe havia acontecido.

Este logicamente não lhe deu muitos créditos, mas devido a conhecer muito bem Aderbal e saber que ele não era homem e brincadeiras, resolveu discretamente testar as estranhas qualidades daquela máquina.

Não é que deu certo! Ela também identificou o seu pensamento e imprimiu um esquema detalhado de como resolver a sua questão.

Aos poucos, de boca em boca, todos ficaram sabendo das proezas daquela máquina. Uma impressora que dava todo tipo de conselho e resolvia todos os problemas que lhe apresentavam.

Rapidamente formou-se uma grande fila no corredor. Logicamente, todos queriam ser atendidos por ela. Todos queriam ter nas mãos a solução para os seus problemas.

Para um maior conforto e privacidade do consulente, providenciou-se uma cadeirinha que foi colocada ao lado da máquina e um biombo, para evitar o olhar indiscreto dos curiosos. Assim o local ganhou certo “ar” de confessionário.

E assim, a máquina começou a atender um por um, daquela fila que crescia a todo instante.

A essa altura dos acontecimentos, funcionários de outros andares já sabendo da novidade, se juntavam aos demais, aumentando cada vez mais a fila. O grande número de pessoas concentradas naquele corredor acabou por gerar um principio de tumulto.

A segurança foi rapidamente chamada para ordenar a tal fila e dar proteção para a máquina. Finalmente, ela, devido aos seus predicados, mostrava ter um valor inestimável para todos.

E assim, passaram-se horas e horas com a máquina em atendimento. Todos saiam maravilhados com suas respostas e com suas soluções originais e fantásticas para os problemas apresentados.

Há certa altura dos acontecimentos, a máquina passou a dar sinal de falta de papel. Logo alguém gritou: - Esta faltando papel! O papel acabou! Instantaneamente criou-se um corre-corre para solucionar o problema. Rapidamente, resmas e mais resmas de papel apareceram de todos os lados. Agora era só alimentar as gavetas e prosseguir sem demora, com aquela inusitada sessão.

Tenta daqui, tenta dali, e ninguém conseguia abrir as gavetas para colocar o papel, elas pareciam estar emperradas. A situação fez com que a tensão crescesse. Alguém gritou, deixa comigo que eu abro estas gavetas. Mas nada acontecia, até que alguém lembrou e mandou chamar o pessoal da manutenção.

A expectativa a essa altura já era grande e todos aguardavam com ansiedade a chegada do grupo que iria solucionar o problema.

Finalmente eles chegaram! Tentaram por várias horas e nada. De vez em quando alguém gritava:

-Cuidado com ela, não vão quebrá-la.

E o tempo passava e nada. Parecia que a máquina era blindada.

A tensão no corredor crescia cada vez mais. As pessoas que ainda não haviam se consultado foram chegando próximo ao desespero. Afinal de contas, aquela era uma oportunidade impar, uma oportunidade imperdível. Aquilo não podia estar acontecendo logo naquela hora.

No ápice da tensão, alguém já alucinado gritou:

- Agora esta máquina vai abrir, e se não foi por bem, será por mal! E num acesso fulminante de raiva, totalmente descontrolada, parte em direção á máquina com um extintor nas mãos e passa a golpeá-la violentamente. Quando o pessoal se apercebe e consegue conter o agressor, já era tarde demais. Infelizmente um desses golpes atingiu o painel de controle, e no mesmo instante a máquina começou a emitir uns estranhos sinais luminosos, até parar totalmente. Um pequeno cheiro de queimado se fez sentir no ambiente.

O silencio foi geral! O que teria acontecido? A máquina teria sido quebrada?

Fez-se um silencio profundo e começou a se criar uma atmosfera de vingança contra o agressor. Passados alguns segundos, alguém gritou lá do fundo: A culpa é dele! Ele é o culpado! Ele quebrou a nossa máquina!

Rapidamente catalisou-se uma ira coletiva contra o agressor, e em coro a galera começou a gritar histericamente, lincha, lincha, lincha!

Mesmo com todo aquele tumulto, alguém percebe que a máquina voltou a emitir sinais. Se bem que eram tímidos, mas eram sinais de vida. O que estaria acontecendo agora?

Para a surpresa de todos, os seus rolos lentamente começaram a funcionar e uma última e derradeira folha lentamente sai do seu interior. Após este ato ela parou completamente.

A folha é recolhida por um dos presentes que a lê com um semblante profundamente reflexivo. Imediatamente passa a mensagem para o outro colega. A reação deste é semelhante a do primeiro. E assim a derradeira mensagem vai passando de mão em mão e todos tendo a mesma reação. O agressor percebendo todos aqueles olhares fulminantes em sua direção começa a tentar sair de fininho. Mas do meio daquele tumulto ecoam as seguintes palavras:

- É agora!

E todos saem correndo atrás do infeliz gritando, lincha, lincha, lincha.

No corredor só restou mesmo à máquina irremediavelmente quebrada o último papel lançada por ela.

Nele podia-se ler: Lincha ele, lincha!

Claudio Sarnelli

22/09/2013

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